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The Master Algorithm

No livro “The Master Algorithm”, o autor Pedro Domingos, professor de ciência da computação na Universidade de Washignton, apresenta uma hipótese central: “A existência de um algoritmo único capaz de descobrir todo o conhecimento – passado, presente e futuro – a partir de dados, um algoritmo-mestre.”

Hoje algoritmos estão no centro de nossa vida cotidiana. Não apenas nos resultados do Google, sugestões de livros e filmes da Amazon e Netflix, seleção de posts do Twitter e Facebook ou filtros de spam do Gmail. Mas também no controle de carros, elevadores, catracas de acesso a edifícios, pulseiras de monitoramento de dados pessoais (wearables), dispositivos de comunicação e incontáveis sistemas de bancos, companhias aéreas, fábricas e negócios. E cada vez aprendem mais e mais com os dados que processam continuamente.

O avanço em sua capacidade de aprendizado levou ao surgimento dos learning algorithms. A estes são colocados os dados de entrada e os resultados desejados. Mas não a forma como chegar a esses resultados. Os learners, como também são chamados, são capazes de produzir, testar, descartar e refinar hipóteses. São algoritmos capazes de criar outros algoritmos. Nos learners está a base para o machine learning, conceito no qual computadores podem produzir seus próprios programas.

Mas por que estamos criando máquinas capazes de desenvolver seus próprios aprendizados? Podemos nos concentrar em problemas imediatos, como encontrar a cura do câncer, por exemplo. De forma resumida, considere duas dificuldades no tratamento do câncer. A primeira é que a doença se desenvolve provocando uma série de outras complicações relacionadas a ela. Não há um padrão, mas uma grande variedade de formas do avanço da doença. Também não há um tipo único de reação aos medicamentos usados no tratamento. Cada paciente reage de uma forma particular a partir da condição de seu corpo. Está aí a segunda dificuldade. Com a evolução do machine learning, algoritmos podem se tornar capazes de desenvolver estratégias particulares de tratamento para cada paciente a partir das características de sua doença e da condição fisiológica do seu corpo. E ainda formular medicamentos individuais para cada um deles. Enquanto grupos de cientistas humanos poderiam levar quase uma vida para testar centenas de hipóteses, os learners realizariam o mesmo trabalho em frações de um segundo.

O livro traz comparações sobre a forma de funcionamento e as diferentes propriedades de computadores e do cérebro humano, que servem de pistas sobre como o aprendizado das máquinas pode se desenvolver com o tempo. Computadores fazem cálculos através de uma pequeno passo de cada vez. Como resultado eles precisam de muitas etapas para realizar algum processamento útil. Mas por outro lado, essas etapas podem ser realizadas de forma muito rápida porque seus transistores podem ligar e desligar bilhões de vezes por segundo. Já o cérebro humano pode executar um grande número de cálculos em paralelo, com bilhões de neurônios trabalhando ao mesmo tempo. Mas cada um desses cálculos é lento porque os neurônios podem disparar na melhor das hipóteses mil vezes por segundo.

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Comentei com o Prof. Rodrigo Firmino, da PUC-PR, sobre a idéia do algoritmo-mestre. Sua resposta foi rápida: “Será Deus?”. Para os religiosos, com certeza, sim. Deus pode ser a fórmula que dá sentido a todos os eventos e seres vivos. Se um algoritmo define “o que fazer” e “como fazer”, a idéia de um algoritmo-mestre depende de uma determinada perspectiva. Para os biólogos essa resposta pode estar no DNA, para os neurocientistas no cérebro humano, e para os matemáticos numa equação universal, que contém a sequência Fibonacci, sua linha de ouro e todas as outras equações. Talvez os físicos pensem nas leis de Newton ou leis quânticas ainda desconhecidas. Para o inventor britânico Charles Babbage, pioneiro da computação, ainda no século XIX, Deus não criou as espécies, mas o algoritmo para sua criação. A evolução, portanto, seria o verdadeiro algoritmo-mestre.

“The Master Algorithm” não é um livro de leitura simples para os que não pertecem ao campo da ciência da computação, embora muitas questões e idéias sejam simplificadas para um público mais amplo. São apresentadas diferentes escolas de machine learning e como cada uma delas busca seu algoritmo universal. Os exemplos e suas explicações, no entanto, são muito interessantes para criar um panorama das transformações produzidas pelas “máquinas que pensam” em um futuro bastante próximo.

p.s.: Atualização em 07/08/16: IBM’s Watson AI saved a woman from leukemia

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