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CONECTA 2019

Palestra sobre “Smart Cities” na V Semana de Arquitetura e Urbanismo.

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Emprelab School 2018

15 equipes de estudantes do ensino médio apresentam soluções para desafios atuais.

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Rise of the Robots: tópicos sobre um futuro sem trabalho

No livro “Rise of the Robots: Technology and the Threat of a Jobless Future”, Martin Ford aborda transformações significativas na relação entre trabalhadores e máquinas. Essas transformações alteram uma premissa básica sobre tecnologia: Máquinas deixam de ser apenas ferramentas para aumentar a produtividade dos trabalhadores. Elas se tornam os próprios trabalhadores.

A partir daí, Ford especula sobre uma questão central: O aceleramento da tecnologia pode ameaçar todo o sistema de trabalho ao ponto em que uma reestruturação fundamental pode ser necessária para que a prosperidade siga seu curso?

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Robôs-Códigos

Mas primeiro, sobre que máquinas estamos tratando? É natural pensarmos inicialmente sobre um tipo de robô retratado em tantos livros e filmes. Um tipo de reprodução das características e funções humanas, potencializadas por recursos mecânicos, que poderiam torná-los mais fortes e rápidos. Robôs assim já povoam diversas indústrias há muito tempo, realizando tarefas repetitivas ou que representem algum tipo de risco aos trabalhadores humanos.

No entanto, há outras constituições dos robôs a considerar. Robôs que não são formados apenas por elementos mecânicos, mas também por softwares que processam dados, acessam servidores remotos, realizam cálculos complexos em períodos de tempo inacessíveis para trabalhadores humanos. E ainda aqueles que são apenas códigos, algoritmos, capazes de criar seu próprio aprendizado, estratégias para realização de tarefas, além de continuamente alterar sua própria constituição.

Um dos mais importantes propulsores da nova revolução dos robôs é o conceito de Cloud Robotics. Isso representa a transferência para a nuvem da maior parte da inteligência que comanda robôs, transformando-os em agentes suportados por hubs de computação. Isso na prática significa que muito da computação necessária para o pleno funcionamento de robôs avançados migra para pesados data centers, permitindo o surgimento de máquinas mais flexíveis, atualizáveis e baratas que não precisam conter todo o poder de processamento e memória dentro de si. Elas apenas precisam de altas taxas de transferência de dados para acessar recursos disponíveis na rede. Se uma máquina aplica inteligência para aprender e se adaptar ao ambiente, o novo conhecimento adquirido se torna disponível de forma instantânea para outras máquinas da rede, tornando mais rápido escalar esse aprendizado para uma grande quantidade de robôs. A Google, por exemplo, já investe em Cloud Robotics, oferecendo suporte e interfaces que permitem a essas máquinas o uso de serviços criados para os dispositivos com o sistema Android.

Nicholas Carr, no livro “The Big Switch”, também destaca uma diferença fundamental em relação aos avanços em tecnologia de informação. Diferente de avanços tecnológicos anteriores, TI encapsula inteligência, já que computadores podem tomar decisões e resolver problemas, se tornando máquinas que em certo (limitado) sentido “pensam”.

A Lei de Moore tem sido uma referência importante sobre o tempo de vida das inovações em diversas áreas. A aceleração dos avanços em hardware sugere que a indústria conseguiu manter um ritmo de curvas “S” em sequência. Em 18 meses um produto inicia seu declínio ao mesmo tempo que seu sucessor inicia sua ascenção. Mas o ambiente dos códigos tem outras regras, com taxas de progresso orientadas pela velocidade dos algoritmos, que em diversos casos está muito além do hardware. Ford cita uma análise do Instituto Zuse, de Berlim, que a partir dos computadores e softwares de 1982 estipulou o tempo de 82 anos de processamento para a resolução de um problema altamente complexo. Em 2013, o mesmo problema poderia ser resolvido em apenas 1 minuto. A redução de tempo, em um fator de 43 milhões, contou com hardware 1.000 vezes mais rápido, para os algoritmos o aumento de desempenho foi de 43.000 vezes.

Destruição X Criação

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Para o emprego de forma geral, a nova fase da revolução dos robôs pode criar um efeito de destruição x criação.

A “destruição” vai afetar inicialmente empresas de trabalho intensivo, em áreas como varejo, alimentação e serviços. O setor de serviços envolve a ampla maioria dos trabalhadores e já evidencia os impactos dessa onda de automação através da disseminação de caixas eletrônicos e diversos serviços do tipo self-service. Milhões de empregos estarão em risco, principalmente aqueles de menor salário. A startup Momentum Machines oferece uma máquina de produção de hamburguers gourmet capaz de realizar todas as etapas sem nenhuma interação humana, atendendo a uma infinidade de variações para cada cliente, como tipo de molho, ponto da carne, etc, numa velocidade de 400 unidades por hora. Não apenas a velocidade da produção é impossível para um trabalhador humano, mas principalmente o registro e memória das preferências de cada cliente.

Mas não vamos considerar apenas os trabalhos de menor salário. O atual mercado global de ações é o campo de trabalho de exércitos de algoritmos que batalham entre si pela conquista de lucros financeiros em operações realizadas em escalas inacessíveis para nós, tanto em relação ao tempo para tomada de decisões, quanto ao volume de dados analisados para tal. Além de substituir analistas bem treinados no mercado de ações, os algoritmos que constituem o que vem sendo chamado de algotrade, também desenvolvem progressos que estão além do controle e entendimento dos programadores que os desenvolveram.

Enquanto isso, a “criação” será responsável pelo surgimento de novas empresas e indústrias, que, no entanto, não contratarão muitos trabalhadores. Em 2005, o YouTube foi criado por três pessoas. Dois anos depois, quando foi adquirida pelo Google por U$ 1.65 bilhão, a empresa tinha apenas 65 trabalhadores, a maioria técnicos de alto nível, numa relação de U$ 25 milhões/trabalhador. Em 2012, foi a vez do Facebook adquirir o Instagram por U$ 1 bilhão, que na época tinha uma equipe de 30 pessoas, ou U$ 77 milhões/trabalhador. Já em 2014, também o Facebook adquiriu o WhatsApp por U$ 19 bilhões. A empresa era formada por 55 pessoas, numa impressionante relação de U$ 345 milhões/trabalhador. Ou seja, podemos estar seguindo em direção a um ponto em que a criação de empregos cada vez mais será menor, incapaz de atender plenamente a toda a força de trabalho futuramente disponível. Será o fim de um ciclo virtuoso, mantido pela transformação dos trabalhadores em consumidores da própria produção.

Imigrantes Invisíveis

Também é interessante observar um ponto discutido pelo autor sobre a falta de percepção das autoridades em relação aos novos trabalhadores digitais. Há uma grande preocupação nos EUA sobre a imigração de trabalhadores estrangeiros interessados em oportunidades de baixa qualificação no país. Uma parte considerável desses imigrantes vai aos EUA em busca de tipos de trabalho que já não interessam aos cidadãos americanos, nas áreas de construção, limpeza e serviços de alta rotatividade. As regras e políticas em relação a esses trabalhadores são fonte de controvérsias e intenso debate. No entanto, não há praticamente nenhuma preocupação em relação a serviços realizados por robôs-códigos, que mesmo baseados em servidores em países distantes, cruzam fronteiras a qualquer momento para atender demandas do mercado interno através de serviços online. Esses trabalhadores digitais entram nos EUA virtualmente, ameaçando de forma significativa trabalhadores de alto nível técnico, ocupando funções que realmente interessam aos americanos.

 

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Cidade Inteligente Búzios

A cidade de Búzios, no Rio de Janeiro, conhecida pela beleza de suas praias, também é atualmente um importante campo de testes para inovações nas áreas de energia eólica, solar e elétrica.

O projeto Cidade Inteligente Búzios, realizado pela Ampla, concessionária de energia local, em parceria com a prefeitura e empresas do setor, tornou a cidade um living lab para criar, implementar e testar soluções de energia alternativa, principalmente elétrica, na forma de uma rede inteligente ou smartgrid.

Uma rede inteligente de energia usa TIC para coletar e manipular informações sobre a geração, transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica. A rede se torna habilitada para o tráfego de dados. Com isso, os usuários podem acessar informações sobre seu consumo, verificar horários com tarifas mais baixas e ainda fazer a gestão de aparelhos remotamente através de um app para smartphone. Motivadas pela necessidade de inovação, busca por soluções mais seguras e regras de contratos de concessão, diversas empresas do setor de energia elétrica estão realizando projetos piloto baseados no conceito de rede inteligente. Sete Lagoas, Barueri, Aparecida, Curitiba, Parintins e Aquiraz são algumas das cidades brasileiras que atualmente suportam living labs para experiências com smartgrids.

O projeto Cidade Inteligente Búzios atende 10 mil clientes, residentes próximos ao centro da cidade de Armação de Búzios, onde também está localizado seu Centro de Monitoramento e Pesquisa, que funciona ao mesmo tempo como um laboratório e um centro de visitação e exposição de serviços e dispositivos. Com o acompanhamento de um monitor é possível conhecer os eixos de atuação do projeto através de apresentações multimídia, saber mais sobre o funcionamento de bicicletas e carros elétricos, postes com luminárias de LED controladas à distância e principalmente os medidores inteligentes, tratados como “gerentes do sistema”.

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Não é difícil encontrar os medidores instalados nas ruas. Eles estão visíveis em muitas residências. No entanto, suas funcionalidades parecem não ser conhecidas pelos habitantes locais. Numa pesquisa informal, entre recepcionistas de hotéis, motoristas de ônibus, garçons e até mesmo atendentes de postos oficiais de turismo, o desconhecimento foi total. Talvez a ação do projeto mais conhecida entre a população e os turistas seja a zona wi-fi gratuita localizada na Rua das Pedras, principal ponto de encontro do centro urbano da cidade.

Living labs são modelos de aplicação do conceito de cidade inteligente, normalmente restritos a um segmento de tecnologia ou determinadas áreas de uma cidade. No mundo, living labs dedicados a experimentos com Internet das Coisas, redes inteligentes de energia, telecomunicações, desenvolvimento de softwares, compartilhamento de veículos, fomento de startups e empresas do setor de economia criativa, por exemplo, estão em andamento em bairros de Barcelona, Moscou, Boston, ou ainda em pequenas cidades, como o projeto realizado pela Telefonica na cidade de Águas de São Pedro, a segunda menor cidade brasileira, localizada no estado de São Paulo.

Quando um modelo de cidade inteligente é proposto por uma empresa de determinado segmento é preciso observar sua influência tanto na concepção das ações que moldam o projeto, quanto na atuação de outros atores. Cidade Inteligente Búzios tem na eficiência energética a base de sua “inteligência”. Mas esse modelo não pode reduzir a importância de outras perspectivas e interesses locais, de habitantes, comerciantes e gestores públicos. Embora a cidade apresente características apropriadas para o desenvolvimento de um living lab de energias alternativas, como sua localização, clima, perfil de consumo e visibilidade internacional, devem existir outros problemas a serem enfrentados para que ela seja reconhecida como uma cidade inteligente do ponto de vista de seus residentes.

Quando uma empresa lidera um projeto desse tipo também traz consigo uma rede de parceiros, tecnologias, agendas e planos de desenvolvimento que precisam ser analisados de forma mais detalhada. Os parceiros tecnológicos, por exemplo, que fornecem ao projeto uma série de dispositivos, sensores e medidores inteligentes, não apenas contribuem com sua implementação, mas ajudam a moldar sua forma final, já que as funcionalidades técnicas serão definidas pelos recursos disponíveis em seus produtos. De forma similar é preciso considerar ainda a influência da municipalidade, de políticas do setor de energia, de regulações do governo, do mercado turístico e outros atores que tomam parte na rede sócio-técnica que se forma em torno do projeto Cidade Inteligente Búzios.

 

 

 

 

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Inhuman Geographies: Landscapes of Speed, Light and Power

No artigo “Inhuman Geographies: Landscapes of Speed, Light and Power”, Nigel Thrift apresenta uma análise de como inovações em tecnologias de velocidade, luz e energia, combinadas e interelacionadas em sociedades urbanas do século XIX, ajudaram a remodelar os espaços, tempos, fluxos, ritmos, experiências e representações da vida urbana.

Sua análise não privilegia uma determinada inovação, tecnologia ou infraestrutura, e sim a construção mais ampla de machinic complexes de velocidade, luz e energia. Thrift demonstra a necessidade do uso de perspectivas mais sofisticadas sobre como inovações em TICs nas cidades contemporâneas, entrelaçadas com transporte, energia, água, mídia, sistemas e técnicas, formam machinic complexes que sustentam o desenvolvimento das cibercidades.

– Tecnologias de velocidade

No século XIX, tecnologias de velocidade, como a carruagem, o bonde puxado por cavalos, a estrada de ferro, o trem elétrico e a bicicleta, progressivamente aceleraram as redes de transporte. A bicicleta é indicada como a invenção que mais causou mudanças no período, pela sua simplicidade e acesso democrático à velocidade. Novas redes de comunicação dispensaram o contato face a face, como o serviço de correio, telégrafo e jornais de grande circulação. Entre os efeitos sociais e culturais das tecnologias de velocidade estão a consciência de intervalos mais curtos de tempo, que resultaram na popularização de relógios, um senso de presença simultânea mais comum, principalmente por causa do telégrafo, as viagens a trabalho, o turismo, uma percepção da passagem mais rápida do tempo e a sensação do corpo como um objeto a ser transportado como qualquer outro.

– Tecnologias de luz

A tecnologia da luz artificial, principalmente luz elétrica, passou a ser usada em residências, lojas e fábricas. A lâmpada e a disseminação da luz elétrica definitivamente separaram a luz e o fogo. Entre as mudanças causadas pelo machinic complex da luz estão a colonização da noite, até então vista como um período de inatividade, o surgimento de novas práticas sociais (“vida noturna”), a extensão do turno de trabalho nas fábricas, a construção de dream spaces, locais como hotéis, teatros e cafés que passaram a usar iluminação artificial como um recurso de consumo visual, a produção de novas formas de vigilância e metáforas a partir de novas percepções sobre a paisagem urbana sob iluminação artificial.

– Tecnologias de energia

Como velocidade e luz, a energia elétrica produziu mudanças importantes, como a popularização de dispositivos, banho com aquecimento elétrico, uso de choques elétricos no tratamento de doenças mentais, a metáfora do corpo como um corpo elétrico (Frankenstein), energia e vida como sinônimos, percepção da energia como um recurso infinito, fim da iniciativa individual e da produção autônoma de energia para dar lugar ao monopólio capitalista de sua produção.

A idéia de machinic complexes é interessante para a formulação de análises de como inovações, tecnologias e outros fatores relacionados influenciam transformações no espaço urbano. Essa abordagem busca evitar a idealização de uma influência específica e idealizada em favor de construções mais complexas de fatores. Sem dúvida é uma abordagem útil para observar as transformações atuais relacionadas a projetos de smart cities e tecnologias relacionadas.

Thrift, N (1995), ‘Inhuman Geographies: Landscapes of Speed, Light and Power’. In N. Thrift, Spatial Formations, London: Routledge, 256-310.

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