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Inhuman Geographies: Landscapes of Speed, Light and Power

No artigo “Inhuman Geographies: Landscapes of Speed, Light and Power”, Nigel Thrift apresenta uma análise de como inovações em tecnologias de velocidade, luz e energia, combinadas e interelacionadas em sociedades urbanas do século XIX, ajudaram a remodelar os espaços, tempos, fluxos, ritmos, experiências e representações da vida urbana.

Sua análise não privilegia uma determinada inovação, tecnologia ou infraestrutura, e sim a construção mais ampla de machinic complexes de velocidade, luz e energia. Thrift demonstra a necessidade do uso de perspectivas mais sofisticadas sobre como inovações em TICs nas cidades contemporâneas, entrelaçadas com transporte, energia, água, mídia, sistemas e técnicas, formam machinic complexes que sustentam o desenvolvimento das cibercidades.

– Tecnologias de velocidade

No século XIX, tecnologias de velocidade, como a carruagem, o bonde puxado por cavalos, a estrada de ferro, o trem elétrico e a bicicleta, progressivamente aceleraram as redes de transporte. A bicicleta é indicada como a invenção que mais causou mudanças no período, pela sua simplicidade e acesso democrático à velocidade. Novas redes de comunicação dispensaram o contato face a face, como o serviço de correio, telégrafo e jornais de grande circulação. Entre os efeitos sociais e culturais das tecnologias de velocidade estão a consciência de intervalos mais curtos de tempo, que resultaram na popularização de relógios, um senso de presença simultânea mais comum, principalmente por causa do telégrafo, as viagens a trabalho, o turismo, uma percepção da passagem mais rápida do tempo e a sensação do corpo como um objeto a ser transportado como qualquer outro.

– Tecnologias de luz

A tecnologia da luz artificial, principalmente luz elétrica, passou a ser usada em residências, lojas e fábricas. A lâmpada e a disseminação da luz elétrica definitivamente separaram a luz e o fogo. Entre as mudanças causadas pelo machinic complex da luz estão a colonização da noite, até então vista como um período de inatividade, o surgimento de novas práticas sociais (“vida noturna”), a extensão do turno de trabalho nas fábricas, a construção de dream spaces, locais como hotéis, teatros e cafés que passaram a usar iluminação artificial como um recurso de consumo visual, a produção de novas formas de vigilância e metáforas a partir de novas percepções sobre a paisagem urbana sob iluminação artificial.

– Tecnologias de energia

Como velocidade e luz, a energia elétrica produziu mudanças importantes, como a popularização de dispositivos, banho com aquecimento elétrico, uso de choques elétricos no tratamento de doenças mentais, a metáfora do corpo como um corpo elétrico (Frankenstein), energia e vida como sinônimos, percepção da energia como um recurso infinito, fim da iniciativa individual e da produção autônoma de energia para dar lugar ao monopólio capitalista de sua produção.

A idéia de machinic complexes é interessante para a formulação de análises de como inovações, tecnologias e outros fatores relacionados influenciam transformações no espaço urbano. Essa abordagem busca evitar a idealização de uma influência específica e idealizada em favor de construções mais complexas de fatores. Sem dúvida é uma abordagem útil para observar as transformações atuais relacionadas a projetos de smart cities e tecnologias relacionadas.

Thrift, N (1995), ‘Inhuman Geographies: Landscapes of Speed, Light and Power’. In N. Thrift, Spatial Formations, London: Routledge, 256-310.

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